quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Conversa de sapatos e polo

-Gú, desce aí! Tô na porta da sua casa.
-Beleza cara, tô descendo.

-Hum, não sei por onde começar...
-Relaxa, não tenho prova amanhã, temos todo o tempo do mundo.
-Então tá certo! Eu queria te falar que eu resolvi descobrir a vida. Pode ser até arriscado tentar definir algo tão valioso para você, mas nesse último ano me bateram alguns flashes.
Tudo começou no fundo do posso, como todo final feliz. Resquícios de desamores, loucura incondicional e aquela típica vontade de acabar com tudo reinavam em minha cabeça. Seria eu? Seria ela? Seria o lugar? Alguém tem de ser culpado pelo sofrimento humano. Conseqüentemente, meus passos perderam a linearidade, fui corrompido pelos avanços tecnológicos e o ar de meus pulmões parecia estar sendo substituído por seu perfume.
Passado o auge da insanidade bateu aquela depressão secundária , quando você pensa em tudo que podia ter feito a mais, insistido (talvez), persuadido. Nesse momento já transferia todo o problema para mim: me faltava beleza, me faltava atitude, me faltava experiência...
Finalmente cheguei à terceira fase, a fase do “ela não me merece, eu sou perfeito e posso arranjar alguém melhor”, mesmo tendo certeza do contrário. Oh, que pensamento mais adulto. No final das contas os que amadurecem primeiro possuem as reações mais infantis.
E esse amor se foi, com ele meus dias de luta. Fui vítima da rotina, perdi a sensibilidade e cheguei à merda (a pouco estava reclamando do amor, agora reclamo de sua ausência). Alguns amigos sumiram, outros são pra sempre. A merda não é um lugar tão ruim, você pode ter uma vista muito boa de lá. Assim ampliei meu campo visual e de idéias. Sentei-me e resolvi traçar metas em um pedaço de papel, como uma espécie de contrato. A intenção foi boa, mas exagerei em não confiar nem em mim mesmo.
Aquela vida ingrata se tornava meu quebra-cabeça, era o início da nossa reconciliação. Talvez por compensação ou resistência ganhei uma namorada, minha família se estabilizou economicamente e sinto que sou feliz. Ou coisa importante foi dar valor à pessoa mais relevante e compreensível do mundo: eu. Não é egocentrismo, é que aprendi que sou feliz por mim mesmo.
A vida, essa sim é uma caixinha de sur...oops! Essa sim não sabe o que quer. É tão estúpida e enigmática que muitos se rendem. O que é fortemente necessário é alguém ao seu lado, que te fará entender que nenhum detalhe, nenhuma dor e nenhuma batalha são em vão.
-Mas onde é que eu encontro essa pessoa?
-Ela está sempre do seu lado.
-Onde?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Caminho Para Casa

Uma músicaa..

Todos parados parecem ninguém
Não uso a energia pois já não convém
O seu tarol me arranja um som
E a harmonia vem da percussão...do seu andar

Ver o sol amarelar
Antes de tudo me faz pensar
Que o tempo vai passando
E eu ainda tenho pressa...pra chegar

Se esses groovies não te encantam mais
Melhor tocar pra frente
Nossa música não tocará

Florir o céu de rosas
Pra ver-te olhar


Se as flores chorassem ao cair
O mundo estaria em lágrimas
Que enxaguariam os olhos
De quem parado...nos vê passar

Se esses groovies não te encantam mais
Melhor tocar pra frente
Nossa música não tocará

Florir o céu cinza de rosas
Pra ver-te olhar

A Dança Das Borboletas

Há tempos queria escrever sobre uma cena que vi essa semana.
Como de costume das voltas para casa, algo está sempre diferente nas ruas, além das feições e das buzinas dos automóveis. Na verdade, os ares urbanos sopram cada vez mais gritos, que chamam pela liberdade, pela ajuda ou simplesmente para serem notados, porque, afinal, todos querem atenção.
Quando nascemos com alguma coisa importante já em mãos, ou nos pulmões, não sentimos com clareza seu poder vital, a mais pura utilidade de sua existência. A desvalorização pode pesar mais que a ausência. Em todo caso, o excesso do odor do lixo e a tristeza estampada nas nuvens foram os fatos que me chamaram a atenção, juntamente com a sensação de desequilíbrio. Foi então que percebi, aliás, a percebi.
Apareceu planando em um ritmo frenético, digno da mistura entre um triste sertanejo e um energético rock. Estava quebrando as barreiras da sensibilidade, fugindo de sua rotina, sua função. Seu destino já estava selado, mas aquela ação fracionária de tempo e repentina me despertou: mas por que a borboleta vai pousar no chão?
No fim não era pouso. O espanto foi maior. Foi a planagem para a morte. Mas antes do aquecimento global, da devastação da natureza e da idéia de que invadimos este mundo, me voltou a tal liberdade que os ventos tinham mencionado instantes antes. Cheguei a pensar que não haveria no planeta pior tragédia do que o corpo do inseto estirado ao chão, pois a imaginação nos permite voar e nossos pensamentos e opiniões são as asas. Se nos submetemos, não nos expressamos e nos conformamos, acabamos por planar em direção ao chão, à estabilidade. E ela de novo, a tão desejada liberdade, acaba se dispersando no ar. Dancemos como as borboletas, pois só o presente pode ser passado e futuro. Assim como não podemos parar de bater asas para não regressar no que já conquistamos, também não paramos porque um novo futuro vem com novas necessidades. Será que tudo isso foi planejado? De qualquer forma, se até o ambiente está se adaptando a nós, nós também conseguiremos.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

As Palavras

Esse é o primeiro. Saiu da minha cabeça depois de passar o dia iludido tendo ao lado a pessoa amada. Mas só na volta para casa, quando eu percebi o que realmente estava me incomodando..

É Deus ou um deles! É aquela que faz sentir o arrepio de uma melancólica paixão. Às vezes surgindo das sombras e iluminando locais cujas lâmpadas davam a entender que não seriam trocadas, transparecendo esperanças passadas. Pode ser que se lembrem em um assobio, num pedido de esmola ou até no simples cantar do menor dos pássaros. Perseguição? Definitivamente não. Está mais parar um vício psicológico que não vem da primeira vez que você traga, nem do primeiro cheiro e nem mesmo da primeira imagem (ou impressão).
Da mesma convivência que surge a mesmice, surge a intriga - é tudo uma questão de tempo para enxergar, ou de estar usando os óculos certos. Vem à tona no refrão daquela música que você não consegue tirar da cabeça, que te segue todos os dias até sua casa (seu refúgio mental). Deparar-se todo dia seria uma tortura, por isso às vezes eu sumo. Eu testo outros sotaques, outros planos, faço o possível para não ficar mal falada. Sim, resolvi assumir que essa história é minha.
Hoje em dia é cada vez mais difícil arranjar uma moradia fixa, estar preso às origens e a ética pode ser meio limitante, mas o que importa é inovar. O vulgo esquecimento não me acomete, cansei de clamar pela eternidade. Tudo é eterno até você encontrar outro alguém.
Para mim, alguns livros já ficaram ultrapassados e alguns clássicos caíram em desuso. E não, não estou querendo ser intelectual, a arte aqui é a expressão e eu sou um mero peão de obra. A gente prolonga, a gente discute, a gente critica, mas sempre aprendemos mais com os exemplos do que com a teoria. Uma hora os por quês não farão mais sentido e seremos obrigados a aceitar mais as desculpas.
O que mais me orgulha é estar na ponta da língua dos grandes líderes e ver seus olhos se articulando continuamente da direita para a esquerda como se você não tivesse o que fazer ou com o que se preocupar. Não é pela fama, reconhecimento ou para adquirir habilidade, nada passa de um estudo para poder te alcançar. Dizer que um gesto vale mais é egoísmo, todo mundo alguma vez já quis ouvir um simples “eu te amo”. Usufrua de seus clichês e desvende-se, porque nem todo conto de fada tem um começo bonito.