quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A Dança Das Borboletas

Há tempos queria escrever sobre uma cena que vi essa semana.
Como de costume das voltas para casa, algo está sempre diferente nas ruas, além das feições e das buzinas dos automóveis. Na verdade, os ares urbanos sopram cada vez mais gritos, que chamam pela liberdade, pela ajuda ou simplesmente para serem notados, porque, afinal, todos querem atenção.
Quando nascemos com alguma coisa importante já em mãos, ou nos pulmões, não sentimos com clareza seu poder vital, a mais pura utilidade de sua existência. A desvalorização pode pesar mais que a ausência. Em todo caso, o excesso do odor do lixo e a tristeza estampada nas nuvens foram os fatos que me chamaram a atenção, juntamente com a sensação de desequilíbrio. Foi então que percebi, aliás, a percebi.
Apareceu planando em um ritmo frenético, digno da mistura entre um triste sertanejo e um energético rock. Estava quebrando as barreiras da sensibilidade, fugindo de sua rotina, sua função. Seu destino já estava selado, mas aquela ação fracionária de tempo e repentina me despertou: mas por que a borboleta vai pousar no chão?
No fim não era pouso. O espanto foi maior. Foi a planagem para a morte. Mas antes do aquecimento global, da devastação da natureza e da idéia de que invadimos este mundo, me voltou a tal liberdade que os ventos tinham mencionado instantes antes. Cheguei a pensar que não haveria no planeta pior tragédia do que o corpo do inseto estirado ao chão, pois a imaginação nos permite voar e nossos pensamentos e opiniões são as asas. Se nos submetemos, não nos expressamos e nos conformamos, acabamos por planar em direção ao chão, à estabilidade. E ela de novo, a tão desejada liberdade, acaba se dispersando no ar. Dancemos como as borboletas, pois só o presente pode ser passado e futuro. Assim como não podemos parar de bater asas para não regressar no que já conquistamos, também não paramos porque um novo futuro vem com novas necessidades. Será que tudo isso foi planejado? De qualquer forma, se até o ambiente está se adaptando a nós, nós também conseguiremos.

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